Como o Value Based Healthcare impacta a Saúde no Brasil?

O Value Based Healthcare parte do pressuposto de que não conseguiremos melhorar a qualidade dos serviços de saúde sem antes repensar os modelos de remuneração do setor.

Isso porque, inevitavelmente, a forma como os profissionais são pagos impacta a entrega de seus serviços.

Ou seja, se o modelo de remuneração recompensa a quantidade de procedimentos que o médico realiza mensalmente, ele vai se esforçar para realizar mais serviços.

Por outro lado, se o modelo privilegia a qualidade das entregas, então os esforços serão no sentido de produzir mais valor para o paciente.

Esse é o desafio da proposta do Value Based Healthcare que você vai conhecer melhor após a leitura deste texto, bem como o seu impacto no Brasil.

O que é Value Based Healthcare?

O Value Based Healthcare que significa saúde baseada em valor é um modelo de remuneração que se contrapõe ao modelo fee for service (pagamento por serviço) que é o mais difundido.

O Value Based Healthcare que significa saúde baseada em valor é um modelo de remuneração que se contrapõe ao modelo fee for service (pagamento por serviço) que é o mais difundido.

Ou seja, no lugar de pagar os profissionais por cada serviço prestado, esse modelo possui a remuneração baseada na qualidade dos desfechos clínicos.

Assim, no Value Based Healthcare, o cálculo dos pagamentos é feito a partir dos custos para produzir desfechos clínicos positivos e por indicadores que mensuram a qualidade dos serviços.

Esse modelo foi elaborado por Elizabeth Teisberg e Michael Porter no livro Repensando a Saúde: estratégias para melhorar a qualidade e reduzir os custos.

A iniciativa dos autores parte da análise do desempenho do sistema de saúde estadunidense que apesar de ter um custo elevado apresenta um desempenho insatisfatório, de acordo com os autores.

No livro, os autores identificam o modelo fee for service é a principal raiz dos problemas do sistema de saúde dos Estados Unidos porque ele gera um tipo errado de competição.

Isso porque, nesse sistema, as empresas não buscam entregar mais valor aos pacientes, pois elas competem para dividir a qualidade do serviço ao invés de elevá-lo.

Por esse motivo torna-se necessário reestruturar o modelo de remuneração no sentido de melhorar a experiência dos pacientes.

Como o Value Based Healthcare impacta a Saúde no Brasil?

Em 2019, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) lançou um guia para a implantação de modelos de remuneração baseado em valor.

Neste texto, a agência identifica que o modelo praticado no país atualmente, isto é, o fee for service também é a causa dos problemas enfrentados pelo Sistema de Saúde Suplementar.

Isso porque ele cria barreiras para o desenvolvimento de novos serviços que poderiam melhorar a assistência no Brasil. 

O que impede, por exemplo, encontrar soluções para diminuir os desperdícios e aumentar a qualidade dos serviços. Entre os principais problemas relacionados ao modelo atual estão os seguintes:

• O modelo não prevê remuneração para atividades básicas dos cuidados com a saúde, como a comunicação entre o profissional de saúde e os pacientes, promoção da saúde, prevenção, etc;
• Remuneração desproporcional nos diferentes pontos do cuidado;
• Ausência de pagamento diferenciado para profissionais com performance melhor.

Desse modo, a adoção do modelo Value Based Healthcare impacta a Saúde no Brasil na medida em que resolve esses problemas. 

Value Based Healthcare x indicadores de saúde

Para implementar o Value Based Healthcare é necessário acompanhar uma série de indicadores capazes de tornar tangível aquilo que se entende como valor para o paciente.

Desse modo, as instituições que irão implantar esse modelo devem analisar tanto as métricas objetivas quanto aspectos subjetivos sobre seus serviços.

Entre os indicadores objetivos podemos citar os seguintes:

1. Taxa de ocupação;
2. Número de infecção;
3. Taxa de Infecção Relacionada à Assistência em Saúde (IRAS);
4. Eventos sentinela;
5. Índices de mortalidade;
6. Taxa de retorno;
7. Tempo médio de permanência.

Os números das taxas que citamos acima são obtidas a partir dos registros que os profissionais fazem nos sistemas de informação das instituições.

Por outro lado, os indicadores subjetivos são obtidos por meio de pesquisas de satisfação que os pacientes respondem.

Ou seja, a parte mais interessada na prestação dos serviços de saúde reportam dados sobre os desfechos clínicos.

Um instrumento importante, neste sentido, é o Net Promoter Score (NPS) em que o paciente atribui uma nota de 1 a 10 para o atendimento.

A partir dessa avaliação, a instituição classifica seus clientes em três categorias:

1. Promotores: pacientes que deram nota 9 ou 10 e, provavelmente, falarão bem da empresa;
2. Neutros: pacientes que atribuíram notas 7 ou 8, mas não vão se manifestar sobre os serviços;
3. Detratores: pacientes que deram notas de 0 a 6 e vão falar mal da instituição.

Existe também a opção de avaliar a qualidade dos serviços por meio de auditorias externas que são realizadas por empresas acreditadoras, como é o caso da acreditação ONA.

Quais são os benefícios do Value Based Healthcare? 

Entre os principais benefícios do Value Based Healthcare podemos citar os seguintes:

Reduz os custos assistenciais

Um dos maiores benefícios desse modelo é a garantia de sustentabilidade para o sistema de saúde, pois ele impede que serviços mais caros sejam escolhidos em detrimento de serviços com menos custo, mas com resultados semelhantes.

Além disso, o modelo é mais claro quanto a remuneração para os cuidados preventivos que também passam a ser o foco da assistência.

Aumenta o engajamento dos pacientes

Como o paciente se torna o centro dos cuidados, o seu engajamento nos tratamentos aumenta significativamente.

Isso porque, ele adota uma posição mais ativa nos cuidados, participando dos processos de decisão. Como resultado, o processo terapêutico se torna mais efetivo.

Melhora a qualidade dos serviços de saúde

Este é o benefício mais evidente, pois os profissionais passam a ser recompensados pela qualidade e não pela quantidade dos serviços prestados.

Por isso, se você administra uma clínica, vale a pena implementar esse modelo conforme a proposta da ANS.

Contudo, para viabilizar essa transição vale a pena consolidar os conhecimentos sobre gestão em saúde. Então aproveite para se aprofundar nesse tema com o nosso ebook com dicas essenciais para administradores de clínicas!